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sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

POEMA LONGO

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CIRCUNCICLO

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I

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Por toda a terra

por sobre todas as suas alucinações

e escombros

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pelo delírio

que é a engrenagem fugidia do ar

e suas cores de incenso e fogo

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pela vida e pela morte dos símbolos

e da roda simétrica de fortunas e ocasos

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a roda que rola na roleta

o rolar lilás dum sonho..


Pela voraz decrepitude das formas

e suas deambulações sobre as águas

trazendo uma lágrima aos nossos olhos

e o esmorecimento ao fogo e ao incenso

-

na casualidade dum átomo

que oscilou

entre a matéria e o frágil magistério

das essências

que povoam os ares

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e que habitam o ardil das folhas das árvores

num rosto filtrando um raio de sol

uma migalha de luz

agitando o correr das águas

e se esbatendo sobre o limbo tranquilo

do rio

dentro do nosso sangue.

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Pela veloz sincronia do tempo e das chuvas

chuvas de águas e pó

de vulcões ardendo no magma

interior dos nossos corpos

como um fogo emergindo das cinzas

cinza que fomos antes de ser fogo

anterior à ideia que temos do corpo

..

formatados ao rochedo da montanha

no móvel desafio das areias

e seduzidos à lama e ao barro

onde nascemos da afinidade do pó pelas águas

no seu ministério de construir ficções

de água e pó

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e que fez antigas ânforas

de marinheiros e mitos

afundados no Egeu e em Creta

donde emergiram as nossas ficções

ou na longínqua noite

de ignoradas estrelas

que brilharam na infância do tempo

..

este é o homem que somos

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um incêndio

desde a noite mágica dos sonhos

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e como os deuses do barro caminhamos

por sobre o barro feito luz

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o sonho dos deuses do barro que fomos

refeito em luz

no quotidiano ciclo dos fascínios

o fascínio de ir refazendo o quotidiano.

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(...)

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(excerto do 1º CANTO, dum poema de 518 versos)

inédito